Perda: naquele ano

Moiras
2 min readJan 28, 2021

Por Michelle Henriques

Sim, eu vou falar daquele ano de novo. O ano em que perdi minha sanidade e o respeito por mim mesma. O ano em que fui acusada de estar chata demais. Já faz tanto tempo, mas parece que foi ontem que recebi mensagens desesperadas perguntando de uma amiga. Ela havia se matado. Demorei para entender aquilo. Nem no dia seguinte, no velório, diante do caixão, eu entendi o que tinha acontecido.

Eu tinha perdido a minha amiga. Em seguida perdi o controle e afundei. É egoísmo eu usar isso como desculpa para todas as merdas que fiz, para todo o mal que causei, mas foi por isso. Ela perdeu a vida, eu perdi a vontade de estar acordada. Eu só queria estar bêbada ou dormindo. Vi muitos filmes de terror, estive com amigos, fui para Curitiba e passei o Natal com a minha melhor amiga.

Mas eu perdi um pedaço de mim. Hoje mesmo estava deletando e-mails para liberar espaço na caixa de entrada e achei vários dela. Apenas o apelido, ela nunca usava o nome. Fiquei com medo de deletar, mas é isso. Eu cobri a nossa tatuagem, por que não deletar conversas antigas? Parece frio da minha parte, mas é o ponto final no desespero.

Ainda tenho um buraco no meu peito, por ter perdido a minha amiga, por ter perdido a minha sanidade, por ter me colocado em situações de risco. Teve Copa, teve show, pessoas se afastaram de mim. Fui chamada de chata. Eu estava chata porque a minha amiga tinha se matado e eu estava cheia de culpa. Chata.

Me perdi, ainda não me encontrei, mas tenho pistas.

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